Rapidinhas televisivas – Outubro (2)

No post de hoje, um especial sobre o final estrondoso de A Força do Querer, com a ótima análise do jornalista Matheus Nascimento, colega de UFPR e do Guia Gazeta do Povo. Também as primeiras impressões sobre O Outro Lado do Paraíso. Confira:

A Força do Querer (e que força)

Por Matheus Nascimento

Janete Clair, a maga das oito, tinha um estilo de carpintaria muito peculiar para as histórias que contava. Suas novelas, das mais românticas às mais realistas, eram cheias de histórias que se cruzavam, geravam ganchos, entrechos que muitas vezes salvavam a novela toda. De uma época em que esses produtos eram escritos por uma pessoa só, Janete só deixou dois discípulos: Gilberto Braga, menos afeito a muitas de suas mágicas, e Gloria Perez, que concluiu a novela que Janete não viu terminar, Eu Prometo.

A Força do Querer, ao meu ver, é a novela de Gloria que mais reuniu esse tempero janetiano depois de O Clone. A diferença é que, escaldada pelo desastre de “Salve Jorge”, a autora corrigiu boa parte de seus vícios: nada de culturas estrangeiras com habitantes nativos que falam português, nada de empregar 100 atores e nada de inventar situações absurdas, como a igreja 24h. Nem tudo foi verossímil, verdade. Mas nada comprometeu a credibilidade da história.

O que mais me chamou atenção foi a capacidade de abordar tabus sem chocar ou espantar o público. Em uma emissora ainda traumatizada com a rejeição às lésbicas de Babilônia, A Força do Querer fez a maior parte do público se magnetizar a torcer pela transição de um homem trans que, além de tudo, era gay. Uma identidade difícil de explicar, mas tudo ficou bem esclarecido. Carol Duarte fez um trabalho arrepiante. Maria Fernanda Cândido, a mãe que rejeitou mas depois entendeu, esteve no mesmo patamar.

Outro improvável foco de torcida foi Bibi, a quem acusaram de ser uma maneira de glamourizar a “bandidagem”. O público em geral nem ligou: o texto conseguiu demarcar bem o arco da Perigosa, que fez o que fez por amor. O senão fica para o final, um tanto abrupto. Mas foi crível, e bem próximo da Bibi da vida real (que só não foi presa). Aliás, falando em Janete Clair, se ela tinha Francisco Cuoco e Dina Sfat, Gloria tem Rodrigo Lombardi e Juliana Paes.

Chamou atenção, ontem, o empacotamento do fim da novela pela Globo. A emissora, geralmente discreta com o fim de suas novelas, mesmo as de sucesso, fez estardalhaço, com entradas direto da festa de encerramento da história e até um Globo Repórter ao vivo. Mais que justificável: A Força do Querer aumentou em oito pontos a audiência da faixa das nove, e nadou de braçada nos próprios méritos e no erro crasso das concorrentes da Simba, que se retiraram da TV por assinatura justo quando a novela estreou.

Já disse isso antes, mas não custa lembrar: a telenovela não morreu, nem a TV aberta. E nem precisou de nada rocambolesco para a tese se comprovar. Talvez, João Emanuel Carneiro consiga entender a lição. A redenção não é exclusividade das crias diretas de Janete Clair.

Recorde de audiência

Da Veja: O último capítulo de A Força do Querer marcou 50 pontos de audiência na última sexta-feira (20) em São Paulo. Segundo o Ibope, o índice foi o mais alto desde Avenida Brasil, que em 2012 bateu os 52 pontos. Já no Rio de Janeiro, a novela de Glória Perez alcançou a mesma marca no penúltimo capítulo, exibido na quinta-feira, e ficou um ponto atrás da capital paulista na grande final, com 49 pontos. Na média geral, a trama fechou com 36 e 38 pontos, respectivamente.

O especial do Globo Repórter sobre a novela, que foi ao ar na sequência, também atingiu a maior audiência desde 2009, com 35 pontos tanto em São Paulo, quanto no Rio. O programa trouxe informações sobre temas abordados em A Força do Querer, como transexualidade e a verdadeira história de Bibi Perigosa (Fabiana Escobar), além de uma cobertura ao vivo da festa de despedida da novela, com a presença da autora e do elenco.

O outro lado

Não consegui assistir ao primeiro capítulo da nova novela de Walcyr Carrasco – laureado com o Emmy Internacional por Verdades Secretas – mas ontem (24) vi o segundo episódio de O Outro Lado do Paraíso. A impressão inicial é de que o elenco está empenhado – grandes veteranos, como Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Nathalia Timberg e Laura Cardoso, estão escalados – os protagonistas não são novatos, mas são “frescos” para o horário, o que ajuda bastante (adoro Bianca Bin e Sergio Guizé, ainda marcado por seu ótimo Candinho em Eta Mundo Bom), e a história tem tudo para deslanchar.

Até agora, o histórico é bastante favorável a Walcyr, que se tornou uma espécie de “Midas da dramaturgia” televisiva: suas tramas funcionaram em todos os horários, até mesmo Amor à Vida, considerada uma das mais fracas, mas que teve bom Ibope e emplacou Mateus Solano e seu vilão Félix entre os memoráveis da última década.

Voltando ao capítulo 2, a cena do estupro na lua de mel dos personagens de Bin e Guizé foi bastante forte, e traz uma mensagem impactante logo de cara: a importância de se abordar a violência doméstica e sexual nos lares brasileiros.

Segundo divulgado por O Globo, O outro lado do paraíso estreou nesta segunda-feira (23) com 34 pontos em São Paulo, segundo dados prévios do Ibope. O primeiro capítulo de A Força do Querer, sua antecessora na faixa das 21h, rendeu à Globo 33 em São Paulo e 37 no Rio. Já A Lei do Amor cravou 31 nas duas praças. Velho Chico tem a maior audiência de primeiro capítulo nos últimos dois anos, com 35 (SP) e 38 (RJ).

Deixe um comentário